quarta-feira, 26 de junho de 2013

A SÍNDROME DO NÃO FESTIVAL

Não sei por que sinto-me na obrigação de comentar sobre a polêmica do cancelamento do Festival do Inverno que bombou nas redes sociais ontem no final da tarde. 

Post vai post vem, toda essa discussão lembrou-me da situação pela qual passamos exatamente nessa mesma época ano passado. Como secretária de turismo recém-empossada, estava diante da negativa do governo do estado em repassar qualquer centavo para a realização do evento e todos fomos acometidos da síndrome do não festival. Não tínhamos dinheiro nem tempo hábil e a vontade de desistir foi grande. Foi então que, em uma das reuniões para discutir o assunto, o prefeito lembrou-me do compromisso ético de se cumprir o calendário e independente da falta de recursos e do tempo curto, o festival seria realizado sim. E ele, o Festival, teria o tamanho da nossa vontade. E eu chamei isso de "A arte de realizar".

Tínhamos uma realidade bem precária que resumia-se a uma ajuda de custo da Secretaria Municipal de Turismo. Um valor que não chegava a dez por cento do que precisávamos. Mas naquele momento eu estava envolvida pela arte de realizar e a minha missão era de transmiti-la para todos. E isso, modéstia à parte, eu fiz muito bem. Com o apoio efetivo operacional do CDL e da Agência de Desenvolvimento e sob a coordenação minha e dos funcionários da Secretaria Municipal de Turismo, em poucos dias tínhamos um exército de pessoas totalmente mergulhadas na arte de realizar. E foi o que aconteceu: o Festival de Inverno de 2012 não foi feito por Fulando ou Beltrano. Ele foi feito por uma comunidade organizada que trabalhou sem medir esforços para alcançar um objetivo comum. Cada um utilizando o seu talento e a sua capacidade de somar, pois era só o que tínhamos efetivamente para colocarmos o Festival na praça. A minha parte foi fácil: um pouco de experiência em gestão de pessoas, meus conhecimentos em marketing para vender a ideia e alguma habilidade em gerenciar planilhas do excel para administrar o minguado recurso.

Durante o evento, a cada dois passos que eu dava e recebia um elogio, eu percebia que o festival era um sucesso. E no final, na prestação de contas (sim, ela existiu!) ainda pudemos contabilizar um pequeno lucro na venda da bebida que foi dividido entre o CDL e a Agência de Desenvolvimento. Mas para mim o sucesso não foi só isso. Para mim o sucesso foi perceber que na asa da gastronomia da praça coberta não tínhamos entreveiro e cachorro-quente, tínhamos o melhor entreveiro e o melhor cachorro-quente. Na asa do artesanato tínhamos o mais belo artesanato da palha de milho e de madeira, tínhamos as melhores crocheteiras e tínhamos um pintor de telas ao vivo, retratando nossas lindas paisagens. E na asa do salão do imóvel, não tínhamos corretores vendendo sítios, tínhamos negociadores de pequenos pedaços do paraíso.

Se a não realização do Festival de Inverno deste ano é um fato muito provavelmente a causa a ser apontada será a falta de recursos. Pessoalmente, acho que a causa é a síndrome do não festival, a ausência da arte de realizar. Mesmo que apareça uma ótima verba da noite pro dia, o Festival já sucumbiu no coração das pessoas. E sem as pessoas não é possível realizar nada. Nossa população está desanimada, desmotivada, sem auto-estima. Se quem tem a obrigação de fazer não faz, imagina quem não tem? E isso sim, é resultado dessa hecatombe trágica que foi a nossa eleição municipal. Não pelo resultado em si, pois eu sou a favor de mudanças mais que qualquer um, mas pela maneira como se chegou a esse resultado. Alianças esgualepadas, planos de governo escritos na base do Ctrl+C/Ctrl+V e discursos que passaram muito, mas muito longe de qualquer ideologia política. Elegeu-se então um prefeito que não dialoga e acabou por nomear uma equipe que não conhece nosso município e nossos valorosos talentos. É óbvio que isso não iria acabar bem. E estamos somente no começo.

Espero sinceramente que as autoridades se pronunciem oficialmente sobre o assunto da não realização do Festival de Inverno, pois a população merece uma explicação.

E se tivermos que passar nosso longo inverno sem poder desfrutar do calor do que para mim é a maior celebração em praça pública, só nos resta assistir aos atabalhoados próximos capítulos dessa nossa Saramandaia da vida real. Bom espetáculo.

Por Letícia Weigert